Foi entregue da manhã deste sábado (dia 06), à ex-líder das Ligas Camponesas de Sapé, Elizabeth Teixeira (hoje com 97 anos de idade), uma réplica idêntica da bandeira oficial usada pelo movimento deflagrado pela Associação dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, a partir da fundação da entidade, em 1958.

A réplica foi pesquisada durante cinco anos (2015/2020), tendo por base de resgate histórico (fonte primária) um rolo de fotografias originais em preto e branco feitas pelo falecido Mery Medeiros de Natal-RN, durante um comício e passeata das Ligas, realizados em janeiro de 1963, na atual “Capital do Abacaxi”.

Houve a utilização de IA (Inteligência Artificial) pelos programas MyHeritage, Photo Converter, B&W Old Restoration and Enhancement, Easy Images Colorization, Radial Gradient Generator e Deepai Colorize Machine para restauração das imagens e recuperação das cores de fundo, depois confirmadas por depoimentos testemunhais de pessoas que vivenciaram essa época, como por exemplo a atriz de cinema Zezita Matos (casada com Breno Matos, artista plástico autor do desenho original, na década de 1960).

Dúvidas sobre o tom exato das cores e a sistematização dos ícones estilizados, como uma foice com cabo de madeira, enxada de roçar mato em plantações, ramos de algodão não floridos e cana-de-açúcar emplumada, foram dirimidas por consulta a vários autores através de suas obras, como por exemplo, Permínio Asfora em “Sapé – 1940” (romance realista/regional).

De 1940 a 1950, a região onde se encontra a “Terra onde Nasceu Augusto dos Anjos – O Poeta do Século XX” serviu para cultivo de cana-de-engenho e algodão para extração de óleo, pelas fábricas da SANBRA (Sociedade Algodoeira do Nordeste do Brasil), daí estar explicada a presença dos ramos dessa cultura na bandeira das Ligas, entre o final dos anos 1950 e início da década de 1960.

As grandes plantações de abacaxi, fruta tropical exportada para vários países como Grécia, Argentina, Uruguai, Paraguai e outros Estado do Sul/Sudeste do Brasil, a exemplo de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina, pelos caminhoneiros todos chamados de “gaúchos” pela população residente nas cidades dessa área de Várzea do Agropastoril do Baixo Rio Paraíba, bastante famosos, só vieram surgir a partir de 1970, já depois do advento das Ligas Camponesas e por isso não aparecem na bandeira do movimento.

OUTRA VERSÃO DIFERENTE DA BANDEIRA FOI DESCARTADA:

Em depoimento neste sábado, Elizabeth chegou a revelar que na primeira versão da bandeira, logo no início dos esboços, pensou-se em usar a cor-de-barro (matiz marrom claro, telha, tijolo) como fundo principal do retângulo (representando a terra, o barro deste chão) e o círculo central seria na cor azul (simbolizando o céu da esperança em dias melhores para o campesinato), mas essas sugestões foram imediatamente abandonadas, sendo totalmente descartadas após o assassinato do marido dela, João Pedro Teixeira, no dia 02 de abril de 1962.

Foi então que decidiu-se usar mesmo a cor vermelha (simbolizando a terra banhada do sangue camponês abatido pelos pistoleiros a mando do latifúndio) e trocar o céu azul da esperança “tardia e distante” por uma esfera branca composta por ferramentas agrícolas incorporadas ao losango de de cor preta (como marca do luto pela morte de João Pedro e seus demais companheiros, também assassinados na mesma época em outros confrontos com policiais militares ou emboscadas armadas por capangas das usinas de açúcar e fazendas de criação de gado).

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