Reportagem produzida especialmente para o Blog do GM por nosso enviado ao local da chacina que deixou seis mortos em terras indígenas remanescentes da etnia potiguara, no litoral norte da Paraíba

Hilton Gouvêa

Na casinha de taipa do Rio das Cabras – local da chacina –, as únicas “testemunhas mudas” do crime são um boné esportivo de cor preta, uma garrafa de Vodka Russov e uma lona plástica preta, que servia de anteparo para a janela, nos dias de chuva.

Seis mortos e seis feridos e um desaparecido – quatro deles eram menores – foi o que resultou da chacina na Aldeia Caieira, no município de Marcação, no Litoral Norte, a 78 Km de João Pessoa. O crime aconteceu por volta de 01h00 de ontem, quando as vítimas foram surpreendidas por dois homens, numa moto.

O clima de pavor instalado na área do rio das Cabras deixou a população rural temerosa. E a conduta de todos, agora, é a de fechar a boca, para não sofrer represálias.

Morreram na hora Adriana Gomes da Silva, 39 anos, dona do sítio onde as vítimas bebiam; e seu filho Eduardo Gomes, de 12. Ele e a mãe Adriana foram mortos na cama onde dormiam.

Também foram vítimas dos tiros – provavelmente de escopeta – Maria Clara Gomes Barbosa, 15 – prima do Cacique Geral Potiguara, Sandro Barbosa –, e três rapazes até agora só identificados como Douguinha, 17 e Rodolfo, 15; Rafael, foi levado gravemente ferido, para o Hospital Regional de Mamanguape.

“Sou pescador de caranguejo e eu não sei de nada ainda, pois quando me avisaram, estava de saída para o mangue”, informa Fabiano Carneiro da Silva, pai do menor Eduardo. Outra filha de Fabiano, Açucena Silva, 17, escapou dos tiros porque se escondeu no quintal de um vizinho.

Ninguém soube informar do paradeiro de um adolescente, apelidado “Carrapato,” que na hora bebia com as vítimas.

“Não sei dizer se foi revólver ou pistola, porque só tive tempo pra correr”, relata uma testemunha ferida de raspão no braço direito. Ele pediu para não publicar seu nome.

Os parentes das vítimas afirmam ignorar o motivo das mortes. Também não sabem quem seria o alvo dos assassinos.

As pequenas multidões formadas na beira da pista que liga Marcação a Baía da Traição comentam que foi um acerto de dívidas por drogas – três dos rapazes mortos eram usuários de “craque”.

O QUE É COCAÍNA SOLIDIFICADA EM CRISTAIS DE PASTA-BASE

Crack é a cocaína solidificada em cristais. O nome deriva do ruído peculiar que se produz quando o cloridrato de cocaína é aquecido.

O surgimento do crack foi a solução encontrada pelos narcotraficantes para resolver rapidamente o problema do preparo da “pasta base” usada diretamente para venda e consumo imediato dos usuários, sem precisar passar pelos altos custos de processamento industrial em laboratórios clandestinos, o que torna a droga em pó refinado um produto mais caro na hora da comercialização.

A POLÍCIA LIBEROU AGORA À TARDE A LISTA OFICIAL DAS VÍTIMAS:

  1. Adriana Gomes da Silva, 41 anos (indígena da aldeia Caieira, em Marcação)
  2. Fabiana Firmino da Silva
  3. Douglas Fidelis Vasconcelos, 19 anos (indígena Potiguara da aldeia Alto do Tambá, em Baía da Traição)
  4. Eduardo Gomes, 13 anos (indígena da aldeia Caieira, em Marcação)
  5. José Rodolfo dos Santos Justino, 15 anos (indígena da aldeia Caieira, em Marcação)
  6. Maria Clara Gomes Barbosa, 15 anos (indígena da aldeia Caieira, em Marcação)

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