O jornalista, poeta, crítico de cinema e escritor Arthur Roberto Coelho, foi diferente em tudo o que realizou, provando que seus objetivos não eram frutos de sonhos inalcançáveis: Apaixonou-se pela Amazônia e lá permaneceu algum tempo.

Foi tipógrafo, diretor e repórter do jornal “O Município”, graças ao então juiz de Itabaiana Heráclito Cavalcanti, que descobriu nele a capacidade de escrever.

Aconteceu então que, surgindo um rompante de desafio inédito – numa época em que o Brasil ainda engatinhava nos meandros da sétima arte -, ele pousou em Nova Iorque e trabalhou na Paramount Pictures Corporation, como crítico de cinema e tradutor do inglês para o português, das legendas de películas produzidas para o público brasileiro.

Arthur Coelho, que era afilhado do pai de Augusto dos Anjos, Alexandre Rodrigues dos Anjos, viveu mais de 30 anos nos Estados Unidos e, segundo um de seus biógrafos, Fábio Mozart, “foi intelectual de altíssima qualidade.

Por isso, Mozart ressalta que o ano de 1973, deve ser lembrado de qualquer forma, por tratar-se da data da morte de um dos maiores intelectuais paraibanos, precursor do jornalismo em Itabaiana. Arthur também mereceu a fama de bom poeta, homem de letras, pensador e esteta de esmerada qualidade.

Ainda segundo Mozart, “esse brilhante cidadão do mundo nasceu em Sapé, a 52 km da Capital; criou-se em João Pessoa e Itabaiana, passou dois anos em São Paulo e um ano em Manaus, capital do Estado do Amazonas. Foi batizado na antiga vila de Espírito Santo-PB. Depois, dona Cândida, sua mãe, converteu-se ao protestantismo”. Não se sabe a qual religião cristã Arthur aderiu.

Escreveu o “Brazilian Portuguese Self-taught” – um tipo de dicionário de português sem mestre -, lançado durante a 2ª guerra mundial, que atingiu cinco edições.

Declarou, em carta ao amigo Guimarães Barreto, em 17 de julho de 1972, ser “quase uma autobiografia,” o seu livro de contos, “Um brasileiro em Sing-Sing e outros contos da América”, lançado em sua primeira edição, pela Editora da Universidade Federal da Paraíba-UFPB.

Sing-Sing é um mega-presídio construído na margem leste do rio Hudson, a 48 Km de Nova Iorque. Tem fama de prisão onde se praticou chibatadas, pancadas e todo tipo de tortura em presos.

Em 1891, quando recebeu a Cadeira Elétrica, sua má fama multiplicou depois que Thomas Edson, inventor da lâmpada elétrica, pediu permissão ao governo dos EUA para testar a eficiência de um de seus inventos num condenado à morte. O homem assou, literalmente.

Sing, em Inglês, não traduz nada de tétrico nem de agressivo: Significa “canta, canta”.

JOÃO PESSOA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE, SEU AMIGO DE COLÉGIO

Arthur Coelho matriculou-se na escola da professora Alexandrina Nacre, em 1890, situada na Rua da República 55, em João Pessoa, onde fez o primário.

Teve como companheiros de escola Aderbal Piragibe e seu irmão Oscar da Silva – além de João Pessoa, futuro bacharel em direito e governador da Paraíba -, e Mardokeu Nacre, filho da mestra, que viria a ser um dos mais celebrados poetas paraibanos.

Iniciou-se na arte a arte tipográfica em uma oficina de João Pessoa. Em seus escritos, Mozart afirma que “Arthur virou tipógrafo, impressor e redator de “O Município” demorando uma temporada em Itabaiana-PB, onde exerceu grande influência, conforme registro no livro “Itabaiana, sua História, suas Memórias”, de Sabiniano Maia.

Foi em Itabaiana, onde ele passou os melhores anos de sua vida, garante Guimarães Barreto. Identificou-se com os itabaianenses mais ilustres daquela época, a ponto de se tornar genro de um deles.

Com a auto-afirmação no meio, ao “fazer a América”, o escritor de Sapé ganhou status profissional e casou com uma americana, miss Katharine Rodger, transformando sua casa, em Nova Iorque, numa espécie de consulado do Brasil, onde recebia os brasileiros que o procuravam.

Passaram por lá Érico Veríssimo, Osvaldo Trigueiro, Assis Chateaubriand e seu amigo íntimo, Monteiro Lobato, que dedicaria ao anfitrião um capítulo inteiro de um dos seus livros da série Dona Benta.

Escreveu inúmeras cartas para os mais destacados políticos e intelectuais de sua época, sobre os mais variados assuntos e questões. Entre seus correspondentes, destacam Monteiro Lobato, José Américo de Almeida, Câmara Cascudo, Gustavo Barroso, Magalhães Júnior, Coriolano de Medeiros, Osias Gomes e inúmeros outros. Esse epistolário encontra-se na biblioteca da Universidade Federal da Paraíba.

Por: Hilton Gouvea
hiltongouvearaujo@gmail.com

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