• Por: Hilton Gouveia
  • Especial pra o BLOGdoGM

Tabajaras e Potiguaras são da nação Tupy.

  • Portanto, irmãos de sangue, que formam etnia única.

Mas entre 1573/74, segundo Horácio de Almeida, Piragibe, que em Tupi significa “braço de peixe”, reinava entre as tribos menores que moravam nas cabeceiras do Rio São Francisco, entre a Bahia e Pernambuco

  • É por esta época que chegam a Olinda dois nobres portugueses falidos, sendo que um deles, traiçoeiro e cruel, se chamava Gaspar de Athaíde.

Em meio a armadores de Olinda e Recife, Gaspar conseguiu equipar com canhões e homens quatro caravelas.

  • Destino: rumar para as cabeceiras sul do São Francisco, com a finalidade de apreender índios para vender todos como escravos.

Recomendaram a Gaspar pedir ajuda ao grande chefe guerreiro da região, Piragibe, muito amigo dos portugueses.

  • Piragibe recebeu Gaspar e seus homens com cordialidade.

E forneceu a eles 200 índios flecheiros e precursores especializados nessas tarefas, durante as guerras tribais.

  • Horácio de Almeida relata, em História da Paraíba 1, que, neste mister, foram aprisionados e inquiridos cerca de sete mil índios, de tribos inimigas dos Tabajaras.

Astuto, Piragibe percebeu que ele e seus flecheiros também seriam inquiridos como escravos.

  • Então, Piragibe mandou um emissário pedir socorro a seu primo, Guiragibe (Assento de Pássaro), que estava por perto, cerca de légua e meia.

Guiragibe atacou os tripulantes caçadores durante a madrugada e matou 92 deles.

  • Depois desamarrou os prisioneiros e mandou-os para as respectivas tribos.

A Coroa Portuguesa colocou a prêmio a cabeça de Piragibe.

  • Este, juntou cerca de 5 mil pessoas de seu povo, e rumou via sertão e Cariri Paraibano.

Chegou na Serra do Jabitacá, em Monteiro, onde nascem os rios Paraíba e do lado Pernambucano, o Moxotó.

  • Chegaram onde hoje é Tibiri, em Santa Rita, no final de 1584 ou início de 1585.

João Tavares, que estava com seus homens onde hoje fica a Ilha do Bispo, soube, através de um dos “línguas” (batedores) da sua expedição, que Piragibe estava por aqui.

  • Então, o bravo português perdoou Piragibe em nome de El-Rey e propôs aliança com este cacique tabajara, que já não estava se dando bem com seus irmãos potiguaras.

A paz entre Piragibe e portugueses foi reatada nas margens do Rio Sanhauá, onde atualmente é a Ilha do Bispo, que na realidade se chama Bairro Índio Piragibe.

  • Por heroísmo e bravura, o rei Felipe II de Portugal, concedeu a Piragibe o Hábito da Ordem de Cristo.

Alguns autores dão Piragibe como sendo nascido na Paraíba. Ele é pernambucano.

  • Zorobabe, um líder potiguara que promoveu guerras contra o Quilombo de Palmares e até aprisionou alguns escravos negros, com o dinheiro da venda desses cativos comprou um bombo, uma corneta, cavalo, manto vermelho e espada.

Ao chegar como herói no Inhombim (Lucena-PB), conta Horácio de Almeida que ele exigiu a ida de todos os caciques locais ao seu encontro, com honrarias e presentes.

  • Piragibe, que passava dos 100 anos de idade, ao ser comunicado desta obrigação respondeu:

“Só saio da minha tribo para receber as damas e fazer a guerra”.

  • E não foi render homenagens a Zorobabe.

Sendo assim, temos a história dos Tabajaras desde 1574, quando Piragibe teve a cabeça colocada a prêmio pelos portugueses e arribou da Bahia para cá, numa jornada que levou 11 anos.

  • Aqui, ele reafirmou a paz com João Tavares e foi perdoado pelos ibéricos.

NOTA DO REDATOR DO BLOGdoGM – Faço aqui e agora, o registro dos meus mais sinceros parabéns públicos ao repórter Hilton Gouveia, pelo resgate no texto acima da saga de dois líderes indígenas, Guiragibe (Tabajara) e Zorobabe (Potiguara) que são praticamente esquecidos pela historiografia oficial acerca das suas respectivas importâncias nos acontecimentos que circundaram as origens da atual capital paraibana, no final do século XVI.

  • Digo isso em razão de que todas as honras, créditos, glórias e o nome inscrito nos livros e compêndios escolares se restringem quase que unicamente a Piragibe, que permanece famoso até os dias de hoje, exatos 440 anos depois de sua existência, enquanto que os outros dois personagens dessa epopeia vivenciada pelos povos originários e colonizadores europeus (ibéricos – portugueses e espanhóis – franceses, piratas e invasores diversos) permanecem no obscurantismo da falta de memória histórica sobre nossa gênese primordial como americanos do sul.

São fantasmas da vida real que escreveram com tinta brasílica (cor de sangue) suas trajetórias humanas, nos antigos mapas de navegação das escolas de Sagres e Coimbra, traçando a crua narrativa dos fatos daquela época selvagem e conflituosa entre dois mundos em colisão – a Terra Nova pagã recém-descoberta pela civilização branca e cristã, se chocando com suas inocentes flechas de bambu contra a cruz de bronze e a espada de ferro do Velho Continente – cujo final todos nós sabemos: a vitória dos conquistadores.

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