• José Walber Rufino Tavares – Coronel BM Veterano Presidente da ALMEP

Em tempos em que a memória e a história disputam espaços entre o esquecimento e a idealização, a criação do Memorial do Cangaço da Paraíba, sediado em Cabaceiras, merece reflexão ponderada, à altura do tema que propõe revisitar.

  • Como presidente da Academia de Letras dos Militares Estaduais da Paraíba (ALMEP), e também como homem de farda e de letras, vejo nesse projeto uma oportunidade singular — e também um desafio.

Oportunidade de valorizar a história sertaneja em sua inteireza, sem retoques ideológicos, nem sentimentalismos ingênuos.

  • Desafio de garantir que essa história seja contada com respeito à memória daqueles que tombaram defendendo a lei, a ordem e a sociedade.

É inegável que o cangaço foi um fenômeno social nordestino que marcou uma época.

  • Seus protagonistas, por vezes tratados como heróis populares, foram também agentes da violência, da vingança e do medo.

Do outro lado, tivemos os volantes — homens simples, de origem igualmente sertaneja, que arriscaram suas vidas em nome da estabilidade e da justiça, ainda que também marcados por contradições de seu tempo.

  • Entre a lâmina do punhal e o coldre do mosquetão, havia uma só certeza: era o sertão quem sangrava.

Sugiro, pois, que o Memorial acolha também a memória dos volantes, dos praças e oficiais que enfrentaram a dura realidade daqueles tempos — como os bravos:

  1. Capitão Paulino Pinto de Carvalho,
  2. Capitão Irineu Rangel de Farias,
  3. Tenente Joaquim Adauto de Oliveira e
  4. Severino Oliveira, o
  5. Sargento Clementino José Furtado (Quelé), o
  6. Sargento José Guedes, o
  7. Major Genuíno Bezerra da Nóbrega, o
  8. Capitão Clementino Amador, o
  9. Tenente Olindino Lopes, o
  10. Tenente João Pinto de Figueiredo e o então
  11. Tenente-Coronel Elísio Sobreira, que mais tarde chegaria ao comando da Corporação.

Homens que adentraram os sertões da Paraíba e de Estados vizinhos para proteger as comunidades sertanejas da violência imposta pelos cangaceiros.

  • Que haja espaço para a dor de ambos os lados.

Que o Memorial seja, de fato, um espelho da complexidade histórica, e não um palco de unilateralidade.

  • A ALMEP se coloca à disposição para contribuir com esse diálogo — trazendo a voz dos que serviram, dos que escreveram, e dos que viveram essa história, não apenas nos livros, mas nas estradas empoeiradas do nosso sertão.

A história não deve servir a paixões.

  • Deve servir à verdade.

E a verdade é quase sempre mais plural, mais densa e mais surpreendente do que os rótulos que tentamos lhe impor.

  • José Walber Rufino Tavares – Coronel BM Veterano Presidente da ALMEP

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