- POR: Chico Pereira (Francisco Pereira da Silva Junior – Cadeira nº 15)
Não me lembro com exatidão quando conheci Carlos Aranha.
- Situo, no entanto, por volta dos meados dos anos de 1960, quando comecei a me integrar aos movimentos da vanguarda cultural e artística paraibana, que transitava entre o antigo Departamento Cultural da UFPB, no Teatro Santa Rosa e na Churrascaria Bambu, esta, naquela época, sede informal da boemia política e cultural da Capital Paraibana.
Mas tenho a vaga lembrança que foi em maio de 1965, por conta do Festival Bossa I, um espetáculo musical coordenado pelo pernambucano Jomard Muniz de Brito, apresentado no Teatro Municipal Severino Cabral, em Campina Grande, oportunidade em que eu estava expondo no hall desse teatro minha primeira mostra individual.
- O show musical, com cenário de Anacleto Eloi de Almeida, tinha no seu elenco o percursionista Naná Vasconcelos, a Cantora Pernambucana Tereza Calazans e o pianista campinense Gabimar Fernandes.
Um ônibus fretado trazia para Campina nesta noite artistas, jornalistas e intelectuais de Recife e João Pessoa, muitos dos quais viriam participar mais à frente do movimento tropicalista.
- Conhecia alguns deles através da imprensa pernambucana e paraibana, notadamente o que se publicava no Correio das Artes, suplemento do jornal A União, que servia de ponte cultural entre os Estados de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, e de forma mais esporádica com outros Estados, a exemplo do eixo Rio x São Paulo.
Foi nessa ocasião que conheci o artista plástico Raul Córdula Filho, que viria ser no futuro um grande companheiro de aventuras culturais e artísticas.
- É dessa ocasião que acredito ter conhecido Carlos Aranha, considerando que nessa comitiva praticamente não faltava ninguém da chamada vanguarda pessoense.
Neste momento, salto dessas descrições para focar mais diretamente na figura desse amigo que partiu, e que durante mais de cinquenta anos foi uma companhia permanente de ideias, atitudes, tomadas de posições políticas e compromissos profissionais, tamanha a sua versatilidade como jornalista, publicitário, editor, produtor artístico, entre tantas outras habilidades que incluíam, também, funções públicas em diferentes ocasiões.
- Tudo isto que contribuiu para formatar uma permanente e inquietante militância cultural sem fronteiras entre o Aranha das artes e o Aranha dedicado à causa pública, incluindo aí sua passagem pelo rádio.
Essa diversificada atividade pode ter contribuído para que Carlos Aranha nunca se assentasse por muito tempo numa só direção, num destino profissional consistente que pudesse colaborar para um sucesso e um reconhecimento numa determinada e duradoura atividade, já que ânimo e domínio dessas diferentes áreas que ele assumia muito bem conhecia e não o amedrontavam.
- Mas era no jornalismo que Carlos Aranha mantinha seu prumo, desde quando muito jovem ingressou no jornalismo, como muitos da era gloriosa que era a imprensa antes da chegada da exigência do diploma, e depois do golpe mortal da era da Internet, degolando o jornal impresso, objeto mágico do culto fetichista da velha imprensa que Aranha conhecia nos seus mais recônditos mistérios, do foca ao redator, da revisão à impressora, do esporte à política, até do horóscopo que ele não só redigia mais acreditava.
É neste território do jornal impresso que Aranha deixou não só o seu legado mais a sua vida.
- Fez de tudo no jornal.
Ou melhor: nos jornais, porque transitou em todos.
- Não foi permanente num assunto porque exerceu todas as funções.
Só não foi proprietário porque nunca teve vocação empresarial mas fez de tudo, da reportagem a funções técnicas e administrativas.
- Levante-se uma memória descritiva jornalística e funcional da imprensa paraibana localizada na Capital nos últimos 60 anos e lá estará Carlos Aranha nominalmente citado ano a ano, mês a mês, dia a dia, seja nos expedientes ou nas colunas assinadas, sem contar o anonimato tão comum no jornal impresso.
- NOTA DO BLOGdoGM – ESTE ARTIGO CONTINUA NAS PRÓXIMAS POSTAGENS… >>>>>>>>>>
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