Local pertenceu à família de José Lins do Rêgo e remete à memória do escritor, bem como a uma época de importantes transformações no País.
- Na terça-feira (16 de setembro), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovou o tombamento definitivo do conjunto, em reconhecimento a sua importância para a história do Brasil.
A decisão foi tomada durante a 110ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão colegiado de instância máxima do Iphan responsável pela avaliação e reconhecimento de bens culturais brasileiros, e resultou na inscrição do Engenho Corredor no Livro do Tombo Histórico e no Livro do Tombo das Belas Artes.
- Foi também realizada uma reunião na sede da APL (Academia Paraibana de Letras), com a presença de acadêmicos e integrantes do Iphan, além da Secult do Governo do Estado e representantes da Comissão de Preservação do Centro Histórico da Capital paraibana:
- Ramalho Leite,
- Damião Ramos,
- Tarcísio Pereira,
- João Trindade,
- Milton Marques Júnior,
- Raglan Gondim,
- Gustavo Peixoto,
- Pedro Santos,
- Augusto Moraes, e
- Afra Soares, entre outros interessados no assunto em pauta.
- O tombamento do conjunto arquitetônico e paisagístico do Engenho Corredor abrange:
- a casa grande, residência e sede da propriedade, hoje recuperada e restaurada;
- os remanescentes e escombros da casa de engenho, hoje em ruínas, com vestígios do antigo sistema de produção de açúcar, que envolvia moagem, cozimento e depuração;
- a casa de purgar, local de secagem e embranquecimento do açúcar, construída posteriormente ao primeiro núcleo de ocupação;
- a antiga senzala, recentemente restaurada;
- além de todo o restante da área do conjunto contida na poligonal de tombamento proposta no parecer técnico do arquiteto Gustavo Peixoto, conselheiro relator do processo.
Memórias de infância e críticas sociopolíticas
- Durante a reunião do Conselho, o presidente do Iphan, Leandro Grass, notou que obras como a de Lins do Rêgo ou a de Gilberto Freyre, autor de “Casa-Grande e Senzala”, costumam ser alvos de críticas – em sua visão, “mal elaboradas” – por promover uma suposta ideia de amizade e convivência pacífica entre etnias e classes sociais.
O superintendente do Iphan na Paraíba, o antropólogo Emanuel Braga, concordando com Grass, afirmou que “as descrições etnográficas que Zé Lins e Gilberto Freyre fizeram em suas obras conseguiram me sensibilizar para a situação da escravidão brasileira tanto quanto as críticas posteriores”.
Educação patrimonial
- Durante a leitura do seu parecer, o relator Gustavo Peixoto ressaltou:
“Se por um lado é verdadeiro que o Engenho Corredor abrigou, criou e deu à luz José Lins do Rego, também procede dizer que José Lins do Rego criou para o Mundo o engenho Corredor, o mundo do açúcar paraibano, e é a ele que devemos o prestígio nacional deste último remanescente que o Iphan trata de tombar”.
- O tombamento é fruto de um processo extenso de análises, visitas técnicas e pesquisas.
Entre os profissionais envolvidos, estiveram os arquitetos Raglan Gondim e Giovani Barcelos, que compartilharam com o relator sua leitura sobre os escritos de José Lins do Rêgo.
- Segundo Raglan, a obra é marcada por “uma inquietação literária que insiste a nos narrar injustiças sociais contemporaneamente permanentes, com suas vozes ainda escritas nesses espaços, nas paredes, na coberta de telha vã, nos escombros a mostrar”.
Atualmente o Engenho Corredor é aberto à visitação, onde quem leu as obras de Lins do Rêgo pode ver de perto o cenário onde foram ambientadas.
- A casa contém móveis de época, utensílios e fotos do fundador, o avô do escritor, e da família.
Para visitar, é necessário agendamento.
- Cabe ressaltar que, se as edificações que já estão restauradas do Engenho Corredor se prestam amplamente à função de educação patrimonial, o antigo engenho em ruínas não deve ser ignorado.
Como notou em sua fala de apresentação do processo ao Conselho Consultivo a coordenadora geral de Identificação e Reconhecimento do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do Iphan, Vanessa Pereira, a ideia “não é que o tombamento congele o imóvel como uma ruína, mas que possa compor o conjunto de forma educativa para o futuro”.