Patrícia Furtado Mendes Machado é pesquisadora iconográfica/filmográfica, de roteiro e de personagens (já trabalhou para filmes, séries e programas de TV).

Ela é Professora de Cinema da UFRJ e está fazendo uma pesquisa na Paraíba e em Pernambuco, sobre o filme realizado em Sapé entre 1964 e 1984, pelo falecido Eduardo Coutinho.

“Imagens que faltam, imagens que restam: a tortura em Cabra Marcado para Morrer”. Significação: Revista de Cultura Audiovisual, 2015, RJ. Este é um dos títulos dela, que resultou numa Tese de Doutorado.

“Tomada em Sapé: os arquivos visuais de Cabra Marcado para Morrer”. Artigo que faz parte do e-book “Ditaduras Revisitadas”, organizado por Eduardo Morettin e por Marcos Napolitano e publicado pela editora Intermeios. Consta das páginas 688 – 710 (22 páginas sobre Sapé, de um total de 830 no livro todo, divididas para 32 autores) – Copyright: Academia, ©2022, SP.

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Fomos buscar mais informações sobre João Alfredo Dias no Arquivo Público Estadual “Jordão Emerenciano”, no vizinho Pernambuco, o segundo maior acervo da polícia política no País.

Um envelope com o nome de João Alfredo Dias – e o número do seu prontuário – guarda as páginas manchadas da sua primeira ficha individual, de 06 de janeiro de 1956.

Carta manuscrita e ficha criminal de João Alfredo Dias.
Fundo: SSP/DOPS/APEJE. Biografia 227. Prontuário 5421.

Guarda também um outro documento, que chama a atenção por conta da fragilidade do material, desgastado pelo tempo, assim como do conteúdo, tão diverso dos textos rigorosos e burocráticos das fichas, prontuários e inquéritos policiais.

Trata-se de uma carta apreendida pelo exército no Arquivo do Comitê Regional do Partido Comunista em Pernambuco e anexada ao prontuário de João Alfredo Dias, em 19 de janeiro de 1966. Seu título é “Biografias”.

Nas duas folhas de papel amareladas, não datadas, escritas de próprio punho pelo líder rural, nos defrontamos com traços da sua subjetividade: a caligrafia rudimentar, tremida e com erros ortográficos.

No texto político, João descreve sua trajetória de vida e denuncia que foi torturado nas vezes que esteve na prisão.

Ele afirma: “Estive preso três vezes e fui submetido a torturas, nenhuma vez estive processado”.

Essa carta que estava escondida dentro de um armário e que acaba sobrevivendo quando arquivada pela polícia, guarda um testemunho que pode ser analisado no presente a partir da sua relação com outras imagens e textos.

Através da própria escrita, João Alfredo Dias aponta que as torturas e assassinatos de camponeses e líderes rurais da Paraíba já aconteciam antes do golpe militar e escreve sobre a sua história consciente de que corria risco de morrer.

Os documentos do DOPS de Pernambuco foram encaminhados para o Arquivo em 1991.

São aproximadamente 145 mil fichas e cerca de 70 mil prontuários disponíveis para consulta desde 2011, por conta da Lei de Acesso à Informação.

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